21-12-2020, 12:29 PM
15. Desarticulando a ambigüidade
Reflitamos um pouco mais sobre os malabarismos e labirintos emocionais que dificultam da conquista. Não somente nos níveis da convivência, mas também na fase da conquista (não utilizo a palavra “sedução” por suas implicações subliminares), é comum que as espertinhas nos enviem sinais contraditórios e que pareçam sentir simultaneamente por nós aversão e interesse, oferecendo aberturas e bloqueios. Por exemplo: nos fornecem um número de telefone, atendem as ligações mas, ao mesmo tempo, ficam enrolando e resistindo para marcar um encontro. Outro exemplo: marcam um encontro amavelmente e sem nenhum problema mas, quando estão em nossa presença, resistem à aproximação ou dizem que querem apenas “amizade”.
A simultaneidade dos sinais opostos nos confunde e paralisa, requerendo medidas desarticulatórias. Se estivermos realmente desapegados e tivermos certeza de que não sentiremos falta da espertinha se a perdermos, poderemos “encurralá-la” emocionalmente com um “ultimatum”, o qual é efetivo para definições imediatas, quando não temos mais nem um pingo de paciência. Entretanto, se tivermos ainda um pouco de paciência e suportarmos esperar, um caminho desarticulador efetivo é a solicitação de confirmação dos sinais desfavoráveis. Vejamos este meio mais de perto.
A espertinha que adota o comportamento ambíguo nos envia simultaneamente dois tipos de sinais: os favoráveis e os desfavoráveis. Os favoráveis visam acender o nosso desejo para nos prender e nos induzir à abordagem. Os desfavoráveis visam frustrar o desejo acendido e conter o nosso ímpeto persecutório, mantendo-nos a uma distância determinada de acordo com os interesses dela. A intenção final é nos induzir a correr atrás delas como uns tontos imbecis. O comportamento ambíguo, composto pela contradição de sinais, impede as tomadas de decisões. Mas os sinais desfavoráveis são um ponto fraco e constituem “uma abertura nos flancos” por onde podemos virar o jogo.
Acontece que a espertinha, ao se comportar desfavoravelmente à nossa aproximação, espera uma resistência de nossa parte contra suas recusas e jamais imagina que possamos de fato aceitá-las ou até mesmo levá-las a um extremo. Se, ao invés de pressionarmos contra a barreira que nos é imposta, aceitarmos a faceta desagradável que nos é oferecida (a recusa ou bloqueio) e solicitarmos à mulher uma confirmação explícita de que realmente não quer mais nada além de um relacionamento superficial e distante, a desconcertaremos e seu tiro sairá então pela culatra. Se conseguirmos arrancar-lhe uma confirmação verbal explícita de que almeja apenas algo sem graça e sem sabor, uma simples amizade, a teremos forçado a se definir justamente pelo que, em princípio, não queria, uma vez que, em meio ao desinteresse, ela havia manifestado também interesse.
Ora, se ela manifestou interesse, é porque visava acender o desejo masculino para, desta maneira, satisfazer o seu próprio desejo de continuidade. A confissão da ausência de interesse em aprofundar o relacionamento marca o fim das nossas esperanças de um contato mais íntimo e profundo mas, justamente por isso, rompe os elos emocionais que nos aprisionavam, libertando-nos para esquecer, e frustra o obsessivo desejo feminino pela continuidade de nosso interesse. Em outras palavras, aceitar e confirmar a face indesejável do comportamento ambíguo oferecido é torná-lo inequívoco e claro, ainda que optando pelo lado desagradável.
Por meio do auto-sacrifício de nossos próprios desejos, obrigamos aquela que intentava nos trapacear a mostrar sua verdadeira face. Então, se houver algo que valha a pena em seus sentimentos, nos será revelado. É assim que desarticulamos o comportamento ambíguo: fazendo a espertinha admitir assumidamente o lado indesejável que nos ofereceu. O que importa é que as coisas estejam definidas, que não restem dúvidas e que nossos sentimentos estejam finalmente resolvidos. Mas isso exige desapego, auto-sacrifício e disposição para perder, virtudes que somente se adquire após muitos anos de aperfeiçoamento interior.
16. Preservando o fio tênue e avançando
Quando não suportamos perder uma mulher por considerá-la exageradamente importante (o que sucede quando o homem está apaixonado), não convém forçá-la a sair da ambigüidade. O mais indicado neste caso é aproveitar a ambigüidade a nosso favor. O aspecto positivo e desejável do comportamento ambíguo constitui um elo que nos mantém presos, uma porta que preserva as esperanças. Sejam quais forem os sinais favoráveis (sorrisos, comportamento simpático etc.), constituem uma abertura à aproximação (ou não seriam sinais favoráveis) e podem ser aproveitados como um caminho para o estreitamento progressivo da intimidade.
Neste caso, simplesmente ignoramos os sinais desfavoráveis, adotamos um perfil masculino ideal e vamos penetrando pelas aberturas com certa naturalidade. Para tanto, basta aproveitar os sinais favoráveis sempre que os mesmos forem manifestados, indo um pouco mais além a cada manifestação, mas sempre ocultando com perfeição as reais intenções24. Aproveitemos as aberturas mas não ousemos em exagero. Não me parece correto destruir o tênue fio se não quisermos realmente “partir para outra”.
Parece-me mais sensato reforçá-lo. Quando queremos aproveitar a ambigüidade ao invés de finalizá-la, o indicado não é forçar a definição, mas, ao contrário, aproveitar as aberturas (sinais favoráveis), que nos sejam oferecidas, ainda que poucas e em um contexto confuso, escolhendo as formas qualitativamente corretas de aproximação, abordagem e insinuação, e evitando formas qualitativamente errôneas, as quais legitimam reações de escândalo e acusações de assédio. Portanto, neste caso que agora tratamos, a ambigüidade deve ser permitida porque contém em si um “fio tênue” que pode, algumas vezes, ser considerado uma esperança de união a ser alimentada e reforçada.
Para o infeliz apaixonado que não suportará a dor da perda, adaptar-se ao comportamento ambíguo pode ser melhor do que forçar uma definição. Adaptar-se à ambigüidade é atuar implicitamente, “com certa dose de hipocrisia, como se não pensasse nisso” (rs), como diria Eliphas Lévi.
É assim que devolvemos a hipócrita negação de intenções e o irritante comportamento indefinido, avançando sem assumir o óbvio e negando o evidente. A leitura geral das reações femininas (e não do que é dito explicitamente) nos dirá se devemos avançar, parar, retroceder ou desistir. A preservação da severidade masculina em tempo quase integral aumentará as chances de sucesso na empreitada de aproveitar os sinais favoráveis.
Ousar com prudência
As investidas (insinuações) que visam aproveitar as aberturas (sinais favoráveis) requerem certa dose de risco e ousadia combinados com prudência e sensatez. É contraproducente abordar indiscriminadamente e de qualquer maneira. Há vários níveis ou graus de intimidade e dar saltos ao estreitá-la pode ser desaconselhável.
O momento decisivo
Se um homem não souber identificar e aproveitar o momento específico de abertura favorável para uma imediata e ousada insinuação, poderá fazer com que a mulher se feche de forma total e definitiva. Este momento constitui uma “parada psíquica” em que as reações femininas se congelam pelas emoções intensas, pela dúvida e pela incerteza. Passado o momento, o volúvel ser feminino recupera suas emoções normais e passa a ver o homem como alguém desinteressante e sem graça. O caráter “hipócrita” (rs), ou seja, a negação das intenções evidentes, protegerá o homem durante suas insinuações, permitindo o retrocesso caso seja necessário. Sempre deve haver uma boa desculpa para o contato e as insinuações.
No momento exato, o qual nem sempre é fácil de calcular, o homem deve abraçá-la e beijá-la para desarmar completamente ou irá provocar uma decepção.