
Primeiramente, peço desculpas por não ter conseguido falar acerca do livro antes (tendo em vista que falei bastante do livro nas últimas votações). Estava trabalhando muito, e nos últimos dias, tive febre, vindo a descobrir que estou com a covid-19 (não só eu, mas esposa e filho). Nem se quisesse, eu conseguiria pegar um livro para ler nos últimos dias. Como hoje posso, comecemos.
![[Image: 13SkrCG.jpg?3]](https://i.imgur.com/13SkrCG.jpg?3)
MARCO AURÉLIO – INFORMAÇÕES RETIRADAS DO PREFÁCIO
Para início de conversa, Marco Aurélio foi um dos mais celebrados imperadores romanos.
Devido a morte prematura de seu pai, Marco Aurélio foi criado por seu tio Antonio Pio, Imperador de Roma na época. Marco Aurélio nasceu em 121 d.C. e assumiu o Império em 161 d.C. Morreu aos 58 anos, durante uma de suas expedições. Passou a última década de sua vida dedicando-se a defender as fronteiras do Império Romano, garantindo a paz dentro do Império.
Trata-se de uma das poucas pessoas que atingiu os ideais platônicos, sendo bem-sucedido como filósofo e como chefe de Estado, algo em que nem o próprio Platão lograria êxito na tentativa.
Cássio Dião, um historiador da época, relatou o seguinte acerca do imperador: “Marco não encontrou a boa sorte que merecia, pois ele não era dotado de um físico vigoroso e se viu envolvido em um turbilhão de problemas durante praticamente todo o seu reinado. Mas, na parte que me toca, eu o admiro ainda mais por essa razão, já que, em meio a dificuldades incomuns e extraordinárias ele conseguiu sobreviver e preservar o império.”
O relato do historiador é importante em nossa análise, nos lembra que a vida não é uma estrada sem curvas e bem pavimentada, mas esburacada e sinuosa. A vida que temos em mente e a vida que temos que encarar na realidade são coisas distintas, esteja preparado para quando as coisas não saírem como o planejado.
LIVRO I
Trata-se de agradecimentos feitos por Marco Aurélio às pessoas que tiveram exímia importância em sua caminhada. Selecionei as partes que mais me chamaram a atenção para tecer comentários. Vejamos.
Da mãe, aprendeu a abstinência dos maus atos, e não só isso, como dos maus pensamentos. Mais importante: a simplicidade no modo de vida, bem distante dos hábitos dos ricos. Mesmo sendo o líder do maior Império que já existira, Marco Aurélio buscava uma vida de simplicidade, livre de vaidades e ostentações. A mim não me agrada pensar em passar a maior parte do tempo tentando obter riquezas, mas ser uma pessoa justa e simples com as demais.
Do bisavô, além do fato de não haver estudado em escolas públicas, saber que, em questão de educação, um homem não deve fazer economias. Marco Aurélio menciona que um homem não deve economizar quando se trata de obtenção de conhecimento, deixando claro o quanto preza pelo saber.
De seu mentor, a não se intrometer na vida alheia, nem dar ouvido aos difamadores. Se fez, o que você ganhou por se intrometer na vida alheia? Dando ouvido a difamadores? A vida é extremamente curta para que caiamos na tentação de regular a vida alheia sem que isso nada nos possa ensinar. Quanto menos averiguamos a vida alheia, mais cumprimos o papel de sermos senhores do nosso próprio destino.
De Rústico, a impressão de que o caráter requer evolução e disciplina; a não se perder nos devaneios sofistas nem escrever sobre temas especulativos; a não se intitular um homem que domina suas paixões ou praticar caridade por pura exibição. A tratar com respeito mesmo aqueles que o ofenderam com palavras ou o fizeram mal. A estar sempre disposto à reconciliação assim que esta se fizer oportuna. Dele também aprendeu a ler atentamente, a não se satisfazer com a compreensão superficial de um livro, tampouco ser facilmente convencido por aqueles que falam aos brados. Perceberam que fiz algumas modificações nos pensamentos de Marco Aurélio? Tempo verbal, cortei alguns pensamentos, etc. Quando se fala sobre não se intitular um homem que domina suas próprias paixões, acredito que Marco Aurélio queria dizer que mesmo ele, um estoico com amplo domínio das emoções, estaria sujeito a se perder nos prazeres mundanos. Por isso, não se gaba disso, o que por si só seria um erro em sua perspectiva. Quantos aqui no fórum, veteranos, com anos de casa, já não repetiram os erros mais comuns que os homens cometem em um relacionamento?
Sobre praticar caridade por pura exibição, logo me lembro do badalado Instagram. Pessoas que viajam à África sob pretexto de ajuda humanitária, que têm chamado a atenção para a quarentena nesses tempos difíceis, que pagam um almoço àqueles que não têm condições financeiras, etc. Tudo isso é postado. O que é um gesto sincero de amor e o que é vaidade?
O autor também chama bastante atenção para o cultivo da razão na tomada de decisões, ou melhor dizendo, sobre jamais se deixar influenciar por aqueles que falam aos gritos, porque estes, não fazem o melhor uso de suas faculdades intelectuais.
De Apolônio, a aceitar favores estimados dos amigos, sem me humilhar (em agradecimentos exagerados) nem deixar que passem desapercebidos. Este trecho reforça um pensamento que eu já cultivava: nunca deixar de receber ajuda quando me for necessária. A não me humilhar pela ajuda, e quando possível, retribuir ao emissor, ou àqueles que necessitarem de mim, em forma de agradecimento.
De Sexto de Queroneia (filósofo estoico e um de seus mentores), a olhar com cuidado as necessidades dos amigos, assim como tolerar os ignorantes e aqueles que formam suas opiniões de maneira superficial. Trabalhemos nosso desenvolvimento para que nunca viremos a face quando um amigo precisar. Evoluamos para que jamais formemos nossa opinião de forma equivocada como fazem os ignorantes.
De Máximo, a governar a mim mesmo, a não me distanciar de meu próprio pensamento; a ter bom ânimo até mesmo na doença; a cumprir os deveres que me são colocados sem reclamar da vida. Me faz lembrar da tolice que é pensar que tudo na vida gira em torno da felicidade. Cumprimos os deveres que nos são colocados. Em busca de uma vida que gire em torno da felicidade, os homens esquecem os filhos, os ascendentes, enveredam para uma vida hedonista e terminam miseráveis, guiados pelos prazeres mundanos em vez de assumirem suas próprias responsabilidades nesse mundo.
Agradeço por, apesar de ter sido o destino de minha mãe morrer cedo, que ela tenha passado os seus últimos anos de vida ao meu lado. Me faz lembrar da minha própria experiência terrena. Minha mãe faleceu cedo, vítima de uma doença só não mais implacável que a sua vontade de viver. Apesar de tudo, apenas agradeço pelo tempo de qualidade que ela pôde me proporcionar, mostrando-me as virtudes que eu deveria cultivar e me afastando dos vícios que destroem os homens por dentro e por fora.
LIVRO II
Um período limitado de tempo lhe foi concedido, e se não o aproveitar para limpar as brumas de sua mente, o tempo escorrerá junto com a sua vida, para nunca mais retornar. Quer passe a olhar para o passado ou para o futuro, o seu tempo escorrerá junto com a sua vida para nunca mais retornar. Viva o presente, pois este é o único tempo que ainda te pertence. O passado pode turvar a sua visão, e as expectativas te levam para o futuro, fazendo com que se perca o presente.
Está sob o poder do próprio homem se encaminhar para o bem ou para o mal, e não sob o poder dos eventos externos (a morte e a vida, a honra e a desonra, a dor e o prazer etc.), que não são em si mesmos nem bons nem maus. Este trecho é um complemento do tradutor a uma das passagens de Marco Aurélio. Está sob as rédeas do próprio homem escolher por qual caminho seguir, por que optar, etc., independentemente dos eventos externos. Aqui basicamente se diz que o homem é responsável por suas próprias ações, devendo assumir-se senhor do seu próprio destino, sucessos ou fracassos, bons ou maus atos.
Aquele que vive por muitos anos e aquele que morre cedo perdem a mesma coisa. Assim sendo, o presente é a única coisa que pode ser privada de um homem, pois em realidade é a única coisa que lhe pertence, e um homem não pode ser privado daquilo que não tem. Viva mais ou viva menos, todos perdem a mesma coisa. O que vive menos, deixa de desfrutar das coisas que a vida ainda poderia oferecer, o que vive mais sofre perda da cognição e todo o vigor que se esvai com a idade madura. Seja na tenra idade ou na idade senil, é uma constante, todos perdem a mesma coisa: a vida.
LIVRO III
Devemos aproveitar todo o nosso tempo presente, não somente porque a cada dia nos aproximamos da morte, como pelo fato de que a nossa capacidade de conceber e bem compreender as coisas tenderá a cessar ainda antes da sua chegada. Sobre não deixar que sua vida corra diante dos seus próprios olhos em tarefas sem sentido ou preocupações vãs. A cada dia que passa, mais nos aproximamos da morte, e antes da morte, a cada dia que passa, podemos sofrer perda de nossa capacidade cognitiva. Revise seus planos, não me diga que sua vida gira em torno de um projeto de aposentadoria. Não te envergonhas de destinar para ti somente resquícios da vida?
Não desperdice o que lhe resta da vida pensando na vida alheia, a menos que em tais pensamentos exista algum objeto de interesse público comum. Pois quando se prende a preocupações do tipo – o que fulano faz, e porque o faz, e o que deve estar dizendo, no que deve estar pensando, maquinando, e coisas assim – se perde um tempo precioso, que deveria ser usado para cuidar do governo de nossa própria alma. Tendo consciência da brevidade da vida, perderia você, seu precioso tempo, especulando sobre a vida alheia? Não há nada mais claro que perder um dia na terra como isso. Seus atos são decisivos em destacar se você perdeu um dia na terra em meditações miseráveis e improdutivas sobre a vida alheia, ou se ganhou mais um dia na terra com ações honradas que promovem um crescimento contínuo na governança da sua própria alma.
Não seja um homem de falar muito, nem alguém envolvido em mais negócios do que pode dar conta. E mais: permita que a divindade em seu interior seja a guardiã de um ser maduro e viril, engajado na política, um romano, um imperador que tomou o seu posto após receber o sinal de vida, e que se encontrava preparado para tal posição, não tendo sido necessário nenhum juramento, tampouco a testemunha de outros homens. Seja também alegre e sereno, e não busque a tranquilidade nos outros. Um homem deve se manter ereto, apoiado em si mesmo, e não se valer dos demais como muleta. Trazendo para o contexto hodierno, jamais fale mais do que o necessário, desvendando os seus planos para pessoas que você não sabe se se alegrariam da sua desgraça. Ademais, esteja preparado para o que vier, assuma a sua responsabilidade seja ela qual for, estando firmemente consciente dos seus compromissos.
Jamais atrele a sua tranquilidade à outra pessoa, apoie-se em si mesmo. Não seja refém das paixões. Controle os seus sentimentos para que jamais tenham prazer em explorar suas vulnerabilidades.
Tire de sua mente todas as demais coisas, e se preocupe apenas com as essenciais, que são poucas. Além disso, tenha em mente que cada homem vive apenas neste momento presente, que é como um ponto indivisível; todo o resto de sua vida é ou passado, ou algo incerto. Não perca seu tempo sendo multitarefas, entretanto, empenhe-se em fazer o seu melhor na atividade em que estiver executando. Faça uma coisa de cada vez, sempre dando o seu melhor, caso contrário, não deve ser feito. Mais uma vez, o autor chama atenção, ao final de seu pensamento, para a brevidade da vida.
MENÇÃO HONROSA A EPÍTETO
Para terminar essa primeira parte de comentários, farei uma menção honrosa a Epíteto, a quem o tradutor da obra diz ser o maior influenciador estoico de Marco Aurélio, com um recorte basilar da filosofia estoica: “As coisas se dividem em duas: as que dependem de nós e as que não dependem de nós. Dependem de nós o que se pensa de alguma coisa, a inclinação, o desejo, a aversão e, em uma palavra, tudo o que é obra nossa. Não dependem de nós o corpo, a posse, a opinião dos outros, as funções públicas, e numa palavra, tudo o que não é nossa obra.”
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MARCO AURÉLIO – INFORMAÇÕES RETIRADAS DO PREFÁCIO
Para início de conversa, Marco Aurélio foi um dos mais celebrados imperadores romanos.
Devido a morte prematura de seu pai, Marco Aurélio foi criado por seu tio Antonio Pio, Imperador de Roma na época. Marco Aurélio nasceu em 121 d.C. e assumiu o Império em 161 d.C. Morreu aos 58 anos, durante uma de suas expedições. Passou a última década de sua vida dedicando-se a defender as fronteiras do Império Romano, garantindo a paz dentro do Império.
Trata-se de uma das poucas pessoas que atingiu os ideais platônicos, sendo bem-sucedido como filósofo e como chefe de Estado, algo em que nem o próprio Platão lograria êxito na tentativa.
Cássio Dião, um historiador da época, relatou o seguinte acerca do imperador: “Marco não encontrou a boa sorte que merecia, pois ele não era dotado de um físico vigoroso e se viu envolvido em um turbilhão de problemas durante praticamente todo o seu reinado. Mas, na parte que me toca, eu o admiro ainda mais por essa razão, já que, em meio a dificuldades incomuns e extraordinárias ele conseguiu sobreviver e preservar o império.”
O relato do historiador é importante em nossa análise, nos lembra que a vida não é uma estrada sem curvas e bem pavimentada, mas esburacada e sinuosa. A vida que temos em mente e a vida que temos que encarar na realidade são coisas distintas, esteja preparado para quando as coisas não saírem como o planejado.
LIVRO I
Trata-se de agradecimentos feitos por Marco Aurélio às pessoas que tiveram exímia importância em sua caminhada. Selecionei as partes que mais me chamaram a atenção para tecer comentários. Vejamos.
Da mãe, aprendeu a abstinência dos maus atos, e não só isso, como dos maus pensamentos. Mais importante: a simplicidade no modo de vida, bem distante dos hábitos dos ricos. Mesmo sendo o líder do maior Império que já existira, Marco Aurélio buscava uma vida de simplicidade, livre de vaidades e ostentações. A mim não me agrada pensar em passar a maior parte do tempo tentando obter riquezas, mas ser uma pessoa justa e simples com as demais.
Do bisavô, além do fato de não haver estudado em escolas públicas, saber que, em questão de educação, um homem não deve fazer economias. Marco Aurélio menciona que um homem não deve economizar quando se trata de obtenção de conhecimento, deixando claro o quanto preza pelo saber.
De seu mentor, a não se intrometer na vida alheia, nem dar ouvido aos difamadores. Se fez, o que você ganhou por se intrometer na vida alheia? Dando ouvido a difamadores? A vida é extremamente curta para que caiamos na tentação de regular a vida alheia sem que isso nada nos possa ensinar. Quanto menos averiguamos a vida alheia, mais cumprimos o papel de sermos senhores do nosso próprio destino.
De Rústico, a impressão de que o caráter requer evolução e disciplina; a não se perder nos devaneios sofistas nem escrever sobre temas especulativos; a não se intitular um homem que domina suas paixões ou praticar caridade por pura exibição. A tratar com respeito mesmo aqueles que o ofenderam com palavras ou o fizeram mal. A estar sempre disposto à reconciliação assim que esta se fizer oportuna. Dele também aprendeu a ler atentamente, a não se satisfazer com a compreensão superficial de um livro, tampouco ser facilmente convencido por aqueles que falam aos brados. Perceberam que fiz algumas modificações nos pensamentos de Marco Aurélio? Tempo verbal, cortei alguns pensamentos, etc. Quando se fala sobre não se intitular um homem que domina suas próprias paixões, acredito que Marco Aurélio queria dizer que mesmo ele, um estoico com amplo domínio das emoções, estaria sujeito a se perder nos prazeres mundanos. Por isso, não se gaba disso, o que por si só seria um erro em sua perspectiva. Quantos aqui no fórum, veteranos, com anos de casa, já não repetiram os erros mais comuns que os homens cometem em um relacionamento?
Sobre praticar caridade por pura exibição, logo me lembro do badalado Instagram. Pessoas que viajam à África sob pretexto de ajuda humanitária, que têm chamado a atenção para a quarentena nesses tempos difíceis, que pagam um almoço àqueles que não têm condições financeiras, etc. Tudo isso é postado. O que é um gesto sincero de amor e o que é vaidade?
O autor também chama bastante atenção para o cultivo da razão na tomada de decisões, ou melhor dizendo, sobre jamais se deixar influenciar por aqueles que falam aos gritos, porque estes, não fazem o melhor uso de suas faculdades intelectuais.
De Apolônio, a aceitar favores estimados dos amigos, sem me humilhar (em agradecimentos exagerados) nem deixar que passem desapercebidos. Este trecho reforça um pensamento que eu já cultivava: nunca deixar de receber ajuda quando me for necessária. A não me humilhar pela ajuda, e quando possível, retribuir ao emissor, ou àqueles que necessitarem de mim, em forma de agradecimento.
De Sexto de Queroneia (filósofo estoico e um de seus mentores), a olhar com cuidado as necessidades dos amigos, assim como tolerar os ignorantes e aqueles que formam suas opiniões de maneira superficial. Trabalhemos nosso desenvolvimento para que nunca viremos a face quando um amigo precisar. Evoluamos para que jamais formemos nossa opinião de forma equivocada como fazem os ignorantes.
De Máximo, a governar a mim mesmo, a não me distanciar de meu próprio pensamento; a ter bom ânimo até mesmo na doença; a cumprir os deveres que me são colocados sem reclamar da vida. Me faz lembrar da tolice que é pensar que tudo na vida gira em torno da felicidade. Cumprimos os deveres que nos são colocados. Em busca de uma vida que gire em torno da felicidade, os homens esquecem os filhos, os ascendentes, enveredam para uma vida hedonista e terminam miseráveis, guiados pelos prazeres mundanos em vez de assumirem suas próprias responsabilidades nesse mundo.
Agradeço por, apesar de ter sido o destino de minha mãe morrer cedo, que ela tenha passado os seus últimos anos de vida ao meu lado. Me faz lembrar da minha própria experiência terrena. Minha mãe faleceu cedo, vítima de uma doença só não mais implacável que a sua vontade de viver. Apesar de tudo, apenas agradeço pelo tempo de qualidade que ela pôde me proporcionar, mostrando-me as virtudes que eu deveria cultivar e me afastando dos vícios que destroem os homens por dentro e por fora.
LIVRO II
Um período limitado de tempo lhe foi concedido, e se não o aproveitar para limpar as brumas de sua mente, o tempo escorrerá junto com a sua vida, para nunca mais retornar. Quer passe a olhar para o passado ou para o futuro, o seu tempo escorrerá junto com a sua vida para nunca mais retornar. Viva o presente, pois este é o único tempo que ainda te pertence. O passado pode turvar a sua visão, e as expectativas te levam para o futuro, fazendo com que se perca o presente.
Está sob o poder do próprio homem se encaminhar para o bem ou para o mal, e não sob o poder dos eventos externos (a morte e a vida, a honra e a desonra, a dor e o prazer etc.), que não são em si mesmos nem bons nem maus. Este trecho é um complemento do tradutor a uma das passagens de Marco Aurélio. Está sob as rédeas do próprio homem escolher por qual caminho seguir, por que optar, etc., independentemente dos eventos externos. Aqui basicamente se diz que o homem é responsável por suas próprias ações, devendo assumir-se senhor do seu próprio destino, sucessos ou fracassos, bons ou maus atos.
Aquele que vive por muitos anos e aquele que morre cedo perdem a mesma coisa. Assim sendo, o presente é a única coisa que pode ser privada de um homem, pois em realidade é a única coisa que lhe pertence, e um homem não pode ser privado daquilo que não tem. Viva mais ou viva menos, todos perdem a mesma coisa. O que vive menos, deixa de desfrutar das coisas que a vida ainda poderia oferecer, o que vive mais sofre perda da cognição e todo o vigor que se esvai com a idade madura. Seja na tenra idade ou na idade senil, é uma constante, todos perdem a mesma coisa: a vida.
LIVRO III
Devemos aproveitar todo o nosso tempo presente, não somente porque a cada dia nos aproximamos da morte, como pelo fato de que a nossa capacidade de conceber e bem compreender as coisas tenderá a cessar ainda antes da sua chegada. Sobre não deixar que sua vida corra diante dos seus próprios olhos em tarefas sem sentido ou preocupações vãs. A cada dia que passa, mais nos aproximamos da morte, e antes da morte, a cada dia que passa, podemos sofrer perda de nossa capacidade cognitiva. Revise seus planos, não me diga que sua vida gira em torno de um projeto de aposentadoria. Não te envergonhas de destinar para ti somente resquícios da vida?
Não desperdice o que lhe resta da vida pensando na vida alheia, a menos que em tais pensamentos exista algum objeto de interesse público comum. Pois quando se prende a preocupações do tipo – o que fulano faz, e porque o faz, e o que deve estar dizendo, no que deve estar pensando, maquinando, e coisas assim – se perde um tempo precioso, que deveria ser usado para cuidar do governo de nossa própria alma. Tendo consciência da brevidade da vida, perderia você, seu precioso tempo, especulando sobre a vida alheia? Não há nada mais claro que perder um dia na terra como isso. Seus atos são decisivos em destacar se você perdeu um dia na terra em meditações miseráveis e improdutivas sobre a vida alheia, ou se ganhou mais um dia na terra com ações honradas que promovem um crescimento contínuo na governança da sua própria alma.
Não seja um homem de falar muito, nem alguém envolvido em mais negócios do que pode dar conta. E mais: permita que a divindade em seu interior seja a guardiã de um ser maduro e viril, engajado na política, um romano, um imperador que tomou o seu posto após receber o sinal de vida, e que se encontrava preparado para tal posição, não tendo sido necessário nenhum juramento, tampouco a testemunha de outros homens. Seja também alegre e sereno, e não busque a tranquilidade nos outros. Um homem deve se manter ereto, apoiado em si mesmo, e não se valer dos demais como muleta. Trazendo para o contexto hodierno, jamais fale mais do que o necessário, desvendando os seus planos para pessoas que você não sabe se se alegrariam da sua desgraça. Ademais, esteja preparado para o que vier, assuma a sua responsabilidade seja ela qual for, estando firmemente consciente dos seus compromissos.
Jamais atrele a sua tranquilidade à outra pessoa, apoie-se em si mesmo. Não seja refém das paixões. Controle os seus sentimentos para que jamais tenham prazer em explorar suas vulnerabilidades.
Tire de sua mente todas as demais coisas, e se preocupe apenas com as essenciais, que são poucas. Além disso, tenha em mente que cada homem vive apenas neste momento presente, que é como um ponto indivisível; todo o resto de sua vida é ou passado, ou algo incerto. Não perca seu tempo sendo multitarefas, entretanto, empenhe-se em fazer o seu melhor na atividade em que estiver executando. Faça uma coisa de cada vez, sempre dando o seu melhor, caso contrário, não deve ser feito. Mais uma vez, o autor chama atenção, ao final de seu pensamento, para a brevidade da vida.
MENÇÃO HONROSA A EPÍTETO
Para terminar essa primeira parte de comentários, farei uma menção honrosa a Epíteto, a quem o tradutor da obra diz ser o maior influenciador estoico de Marco Aurélio, com um recorte basilar da filosofia estoica: “As coisas se dividem em duas: as que dependem de nós e as que não dependem de nós. Dependem de nós o que se pensa de alguma coisa, a inclinação, o desejo, a aversão e, em uma palavra, tudo o que é obra nossa. Não dependem de nós o corpo, a posse, a opinião dos outros, as funções públicas, e numa palavra, tudo o que não é nossa obra.”